sábado, 3 de outubro de 2015

De Donizete Galvão



Escoiceados

Meu pai e eu
nunca subimos
num alazão
que galopasse
ao vento.
Tínhamos 
um burro
cinza-malhado:
o Ligeiro.
Foi apanhado
de um conhecido
por ninharia.
Chegou com fama
de sistemático,
cheio de refugos.
De trote tão curto
que dava dor
nas costelas.
De certa vez,
caímos do burro.
Meu pai e eu.
Eu e meu pai.
Embolados.
Joelhos esfolados
no pedregulho.
Levamos
bons coices.
Meu pai e eu.
Os dois
nunca subimos
na vida.

(Ruminações, 2000)





Donizete Galvão (1955-2014) - Mineiro de Borda da Mata, estabeleceu-se em São Paulo como jornalista a partir de 1979. Em 1988 estreia com Azul navalha. Publicou outros seis livros de poemas, entre eles, A carne e o tempo (1997), Ruminações (2000) e O homem inacabado (2010).