De Júlia
Cortines
Última
página
Antes de
mergulhar no silêncio da morte,
ou da idade sentir a fraqueza e o torpor,
eu quisera lançar, num supremo transporte,
meu grito de revolta e meu grito de horror.
ou da idade sentir a fraqueza e o torpor,
eu quisera lançar, num supremo transporte,
meu grito de revolta e meu grito de horror.
Mas sei
que por mais forte e por mais estridente
que ela corra através do infinito, até vós,
ó céus, que além brilhais numa paz inclemente,
nem qual brando rumor chegará minha voz!
que ela corra através do infinito, até vós,
ó céus, que além brilhais numa paz inclemente,
nem qual brando rumor chegará minha voz!
Mas sei
que não há dor que a natureza vença,
e que nunca a fará de leve estremecer
na sua eternidade e sua indiferença
o lamento que vem dum transitório ser.
e que nunca a fará de leve estremecer
na sua eternidade e sua indiferença
o lamento que vem dum transitório ser.
Mas sei
que sobre a face execrável da terra,
onde cada alma sente, em torno, a solidão,
esse grito, que a dor duma existência encerra,
não irá ressoar em nenhum coração.
onde cada alma sente, em torno, a solidão,
esse grito, que a dor duma existência encerra,
não irá ressoar em nenhum coração.
Contudo,
num clamor de suprema energia,
eu quisera lançar minha voz! Mas a quem
enviar esse brado imenso de agonia,
se para o compreender não existe ninguém?!
eu quisera lançar minha voz! Mas a quem
enviar esse brado imenso de agonia,
se para o compreender não existe ninguém?!
(Vibrações,
1905)
Júlia Cortines (1868-1948) – Nasceu em Rio Bonito (RJ) e morreu no Rio de Janeiro (RJ). Publicou
apenas dois livros, Versos (1894) e Vibrações (1905).